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17º dia de peregrinação na Via Francigena

Via Francigena – De Radicofani à Montefiscone (13/05/2015)

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Vista do albergue.

O cotidiano e o convívio em qualquer albergue é pautado pelo respeito, educação, higiene, solidariedade e companheirismo para com os demais. Ou seja, para manter um bom nível de convívio há que seguir estas regras básicas. O dia começa cedo, mas muito cedo para alguns, enquanto que para outros, a saída do albergue é postergada de acordo com o cansaço ou a preguiça mesmo. Além de nós três, em nosso quarto havia um inglês que estava percorrendo o caminho à pé, desde a sua terra natal. Na noite anterior, ele nos falou que iria sair muito cedo, por volta das 04:00 horas da manhã. Ele caminha pelos bosques e montanhas, guiando-se com a ajuda do GPS do seu celular, o que garantia que ele sempre estaria no caminho certo. Para se ter uma ideia do nível de educação desse cidadão, ele acordou, arrumou as suas coisas e nem sequer sentimos a sua saída. Quando acordamos, não havia nenhum vestígio de sua passagem por aquele albergue.

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Café da manhã.

Acordamos por volta das 08:00 horas, preparamos o nosso café da manhã na cozinha do albergue e saímos de lá por volta das 09:00 horas, quando já não havia mais ninguém. Aproveitamos para fotografar um pouco da cidade, mas não demoramos muito, já que estava um tanto tarde para iniciar a pedalada matinal. Ainda passamos na conveniência para falar com o Adriano e agradecer-lhes por tudo. Segundo ele, a cidade de Radicofani, mais precisamente a Via Renato Magi, foi local de passagem de Sigerico, Arcebispo de Canterbury, durante a sua viagem de volta à Canterbury, na Inglaterra.

Partimos dali sem fazer esforço algum nas pernas. O esforço estava concentro em nossas mãos, no controle dos freios das bikes, pois havia uma grande ladeira que nos conduzia a parte mais baixa da cidade. Nesta descida as ruas eram estreitas e repletas de casas com dois ou mais pavimentos. Além do estilo arquitetônico, o material utilizado na sua construção (pedra vulcânica) chamava a atenção pela beleza e aspecto rústico que infringia às casas e ao vilarejo. E para deixar o ambiente mais charmoso, os moradores enfeitavam as janelas e varadas de suas casas com pequenos jarros floridos, o que imprimia mais cores e vida ao pitoresco vilarejo.

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Divisa de regiões.

Os quase 7 km de descida pela rodovia SP24 nos deixou bastante empolgados. Ao fim deste trajeto, seguimos pela rodovia SR2, a Via Cássia, que foi uma importante estrada romana. Mais a frente, na altura de Centeno, cruzamos a fronteira entre a Toscana e o Lazio, desta forma entrávamos na sétima e última região de nosso trajeto ao longo do trato italiano da Via Francigena. Fizemos uma breve parada em Acquapendente, onde almoçamos pizzas numa Pizzaria, situada na Vicolo delle Volte. Sentados à mesa em frente à pizzaria, tínhamos a visão de toda a praça e do imponente prédio da prefeitura municipal. Em uma das esquinas da praça, ainda pudemos avistar a peregrina que estava perdida no dia anterior, e novamente ela parecia estar perdida ou então à procura de algo, pois volta e meia ela cruzava a praça com o seu livro na mão, o qual o olhava atentamente.

Saímos da pizzaria e não foi difícil reencontrar o caminho, afinal, a cidade era bem pequena e possuía placas da Via Francigena indicando a direção a ser seguida pelos peregrinos. Com isso, novamente estávamos na rodovia SR2, a Via Cássia, e a partir dali, seguimos adiante, passando por San Lorenzo Nuovo e Bolsena. Em Bolsena, fizemos uma breve para para conhecer o Lago di Bolsena, que é considerado o maior lago de origem vulcânica da Europa.

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Entrada do cemitério.

Mais adiante, conhecemos o Bolsena War Cemetery, ou Cemitério de Guerra de Bolsena, que nos deixou bastante surpresos com a sua organização e limpeza. Este local foi escolhido como cemitério em novembro de 1944, e suas sepulturas foram trazidas dos campos de batalha de Bolsena e Orvieto. Segundo dados do cemitério, um terço das pessoas enterradas alí eram sul-africanos. Por volta do ano de 1947, o cemitério recebeu mais 47 túmulos, que vieram da Ilha de Elba. Ao todo, existem 597 lápides no cemitério, sendo que 40 delas sem identificação. Em junho de 1944, em decorrência do avanço das forças aliadas sobre a Linha Gustav (linha defensiva alemã), as tropas alemãs bateram em retirada ao norte de Roma, o que garantiu aos aliados a conquista de Roma. No entanto, os alemães formaram posição em Bolsena e à leste do Lago de Bolsena, onde houve uma grande batalha de tanques entre a 6ª Divisão Blindada Sul-africana e a Divisão Panzer Hermann Göring.

Eu e Fagner, particularmente, gostamos da história relacionada à Segunda Guerra Mundial, e aquele cemitério significava algo que nunca sequer pensamos conhecer, mas que naquele momento se traduzia em algo concreto e, devido a sua natureza histórica, não podíamos deixar passar em branco.

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Cemitério de guerra em Bolsena.

De Bolsena até Montefiscone pegamos uma subida que nos deixou bastante cansados. Devido ao peso da bicicleta e inclinação da pista, em alguns momentos era possível pedalar, mas em outros não. Os quilômetros finais que nos separavam de Montefiscone foram mais duros, pois à medida que nos aproximávamos de lá, a inclinação da pista parecia aumentar. Mas talvez tenha sido apenas impressão nossa. O resultado foi que por volta das 20:00 horas chegamos lá. Vencido todo o cansaço, faltava apenas encontrar um albergue para passarmos à noite. Após inúmeras voltas, não conseguimos encontrar o albergue Accoglienza Raggio di Sole (via San Francesco, 3). A partir dali, seguimos em busca da segunda opção, o Monastério di San Pietro (via Giuseppe Garibalbi, 31), onde conseguimos chegar através de um cidadão que nos mostrou o caminho até lá. E, para a nossa alegria, havia vagas disponíveis. Apesar do nome indicar ser um Monastério, alí funcionava um Convento. Lá, fomos muito bem atendidos pelas freiras e conseguimos mais um carimbo em nossas credenciais.

Devido ao horário que chegamos no albergue, cerca de 20:30 horas, não era mais possível sairmos pois as 21:00 horas o Monastério seria fechado. E quem fatalmente chegasse após esse horário, iria dormir na rua. As freiras foram muito cordiais conosco e nos preparam um bom jantar a um custo módico.

Estávamos felizes e com o moral alto, pois mais um dia havia transcorrido dentro da normalidade e havíamos percorrido 68 km, ficando a apenas uns 100 km de Roma.

Confira abaixo os vídeos relacionados a este dia.

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Percebendo que havia pouca ou quase nenhuma informação, inclusive relatos de viagens de brasileiros, resolvi montar este site junto com o meu irmão, Fagner, e seu colega de trabalho, Sanches, visando suprir o site com relatos consistentes sobre a Via Francigena, dando enfoque aos aspectos históricos, culturais e religiosos deste caminho.